9.14.2009

O herói absurdo

Uma reprodução livre do mito de Sísifo
Na Grécia Antiga viveu um homem chamado Sísifo, ele era rei da cidade que viria a chamar-se Corinto. Uma bela manhã, Sísifo, considerado um mestre na arte da malícia e dos truques, observa uma águia sobrevoar a cidade, tendo em suas garras uma bela jovem chamada Egina filha de Ásopo, um deus-rio. Logo percebe se tratar de uma das metamorfoses de Zeus, Deus do Olimpo.
Algum tempo depois Ásopo vem falar-lhe sobre o rapto de sua filha e lhe pediu informações. Sísifo faz um acordo, contará o que sabe em troca de uma fonte de água para sua cidade.
A fonte chamou-se Pirene.
Zeus, enfurecido, mandou o Deus da morte, Tânatos, para buscar Sísifo. Este elogiou a beleza de Tânatos e pediu-lhe permissão para lhe presentear com um colar. O colar era, na verdade, uma coleira com a qual Sísifo aprisionou a morte e driblou seu destino.
No entanto, Ares o Deus da Guerra, precisava da morte para concluir suas batalhas e reclamou a Hades, o guardião dos mortos. Este libertou Tânatos e condenou Sísifo ao inferno.
Ao despedir-se de sua mulher, Sísifo pediu-lhe que não enterrasse seu corpo.
Ao chegar no inferno mostrou-se irado a Hades, por seu corpo ter ficado exposto e pela falta de amor de sua mulher, pediu então um dia de prazo para voltar se vingar de sua esposa e fazer seu enterro.
Ao voltar a terra, Sísifo fugiu com sua mulher. Viveu até a velhice quando, ao morrer, foi condenado a empurrar eternamente um pedra de mármore até o cume de uma montanha sendo que, toda vez que a pedra chegava ao topo, ela voltava ao início.
"O ABSURDO E O SUICÍDIO Só existe um problema filosófico realmente sério: é o suicídio. Julgar se a vida vale ou não a pena ser vivida é responder à questão fundamental da filosofia. O resto, se o mundo tem três dimensões, se o espírito tem nove ou doze categorias, aparece em seguida. São jogos. É preciso, antes de tudo, responder. E se é verdade, como pretende Nietzsche, que um filósofo, para ser confiável, deve pregar com o exemplo, percebe-se a importância dessa resposta, já que ela vai preceder o gesto definitivo. Estão aí as evidências que são sensíveis para o coração, mas que é preciso aprofundar para torná-las claras à inteligência. Se me pergunto em que julgar se uma questão é mais urgente do que outra, respondo que é com as ações a que ela induz. Eu nunca vi ninguém morrer pelo argumento ontológico. Galileu, que detinha uma verdade científica importante, abjurou-a com a maior facilidade desse mundo quando ela lhe pôs a vida em perigo. Em um certo sentido, ele fez bem. Essa verdade valia a fogueira. Se for a Terra ou o Sol que gira em torno um do outro é algo profundamente irrelevante. Resumindo as coisas, é um problema fútil. Em compensação, vejo que muitas pessoas morrem por achar que a vida não vale a pena ser vivida. Vejo outras que paradoxalmente se fazem matar pelas idéias ou as ilusões que lhes proporcionam uma razão de viver (o que se chama uma razão de viver é, ao mesmo tempo, uma excelente razão de morrer). Julgo, portanto, que o sentido da vida é a questão mais decisiva de todas. E como responder a isso? A respeito de todos os problemas essenciais, o que entendo como sendo os que levam ao risco de fazer morrer ou os que multiplicam por dez toda a paixão de viver, provavelmente só há dois métodos para o pensamento: o de La Palisse e o de Don Quixote. É o equilíbrio da evidência e do lirismo o único que pode nos permitir aquiescer ao mesmo tempo à emoção e à clareza. Em um assunto simultaneamente tão modesto e tão carregado de patético a dialética clássica e mais sábia deve, pois dar lugar — convenhamos — a uma atitude intelectual mais humilde e que opera tanto o bom senso como a simpatia."
Albert Camus - O mito de sísifo
Questão: Até que ponto nossa ações fazem algum sentido?

Nenhum comentário: